A Ana Maria entrou no Teatro pronta para dar risadas, gargalhadas, até.
Mas assim que o ônibus amarelo deixou Kraunus no palco do Teatro e voou levando
Maestro Pletskaya de volta para Sbórnia, bateu aquela saudade.
Saudade/riso/saudade/choro/saudade/alegria/ saudade/ brilho nos olhos.
Uma consciência doída e doida de que a pessoa não está mais ali, mas
está.
Uma consciência de todos aqueles clichês, que são tão verdadeiros. Coisas
como "o artista nunca morre, sua obra será eterna."
Trocam as luzes, troca a música. Aplausos, risadas,emoção ao lembrar da
Cat Milleidy e da atriz Adriana Marques. E tudo de novo:
Saudade/riso/saudade/choro/saudade/alegria/ saudade/ brilho nos olhos.
E o inconsciente recobra a frase:
"Você trocaria esse desconforto de agora por não ter conhecido essa
pessoa?
Você trocaria?
Você trocaria?
(...)
Enquanto esse turbilhão de emoções rodopiava o coração da Ana Maria, a
Virgínia, ali ao lado, olhava esquisito. Como quem diz: "Mas isso não tá com delay? Afinal, já faz tempo! Tu já é
grandinha, né? "
E só com os olhos, ou fingindo que não está vendo a Ana Maria já
responde: "Não, não tá com delay! Porque o luto é algo que não tem dia,
nem hora. Não tem ano, nem década. Ele tem o seu tempo."
Só para vocês entenderem: a Ana Maria e a Virgínia são amigas há tanto
tempo que respondem mentalmente, uma para a outra, as perguntas que nem
chegaram a ser feitas.
Ah! E respondendo a pergunta complicada do início: ela não trocaria por
nada a alegria de ter conhecido (mesmo que só na plateia) o maestro Pletskaya.
Ela jamais apagaria lembranças para ganhar como recompensa um aparente
conforto, sem significado algum.
Jana Maria
CRÉDITO DA FOTO: Fabiano do Amaral / CPMemória
(Site Correio do Povo)